Em 2011, quando eu já tinha parado de andar completamente e estava com dificuldade para comer, nos aventuramos a viajar para Alemanha para um novo tratamento. E que aventura! Uma epopeia com muitos imprevistos e mudanças de cursos, mas também com diversão e esperança, que meu pai narrou brilhantemente na época, escrevendo diariamente os capítulos desta história. No último post, eu falei pra vocês sobre “Os tratamentos que fiz nos primeiros anos com ELA”, por meio de um texto escrito pela minha mãe. Agora, conto como foi “O transplante de células-tronco na Alemanha”, escrito pelo meu pai, Márcio*. Boa leitura!
Relatos da viagem para Alemanha – Maio/2011
Através de um colega, Dr. Valter Benedicto Costa, fiquei sabendo que a técnica de Transplante de Células-Tronco estava sendo realizada, para casos de ELA, em Dusseldorf, Alemanha. Os amigos do Ricky prontamente criaram um crowdfunding e em uma semana tínhamos dinheiro suficiente para a viagem e o tratamento.
Assim sendo, em maio de 2011 viajamos para Dusseldorf, Ricky, Cristina, eu e Nilton Santos, nosso grande amigo que se ofereceu para nos ajudar nessa empreitada.
Dois dias antes de viajarmos, recebemos um telefonema da Dra. Marcia Gravatá, neurologista que tem acompanhado e orientado o caso do Ricky nos últimos meses. A Dra. Marcia já havia ido para Dusseldorf uma semana antes, para esperar o transplante do Ricky. No telefonema ela nos disse que deveríamos ir para a Alemanha pois a Conceição havia conseguido liberar o transplante de células tronco.
Chegamos a Dusseldorf, onde nos esperava Conceição de Maria, piauiense que é a relações públicas da Xcell-Center, que realizaria o transplante. Fomos todos numa van da clínica até o complexo hospitalar, que ocupa a área equivalente a um quarteirão inteiro, onde fica o Hospital “Domynikos Krankerhauss”, o prédio onde vivem as freiras camellianas, um prédio que é a Capela e um outro prédio, chamado de Convento, local onde iríamos nos hospedar.
No dia seguinte, estávamos saindo de casa para uma consulta, quando Conceição disse que fora informada de que a reunião para liberar o transplante do Ricky havia sido transferida para 4ª feira próxima, mas que mesmo assim ele passaria pela consulta com o hemodinamicista vascular. Depois de esperar por quase uma hora fomos recebidos pelo hemodinamicista, Dr. Christian Beythien que defende a tese de que quase todos os portadores de ELA têm estreitamento de jugular e que essa seria uma das causas que desencadearia a doença. Não fez muita questão de ver os exames anteriores do Ricky pois disse que estavam em português e ele não iria entender…será que as imagens também estavam em português??? Por fim veio a revelação bombástica: ele achava que os transplantes não seriam liberados nos próximos dias, mas talvez levasse meses… ou anos… Mas mesmo assim achava que Ricky iria melhorar se realmente tivesse estreitamento das jugulares e se esses estreitamentos fossem tratados com angioplastia. Acredita ele que esse procedimento possa melhorar a deglutição e a fala… Indicou CT e REM além da avaliação de um ortopedista especializado em medicina esportiva. Fomos levados para o centro de diagnósticos da Xcell-Center e a CT revelou realmente estreitamento de jugulares esquerda e direita. A REM não pode ser feita pelo fato de que o Ricky não consegue manter a cabeça em extensão, condição “sine qua non” para o exame. Em seguida foi avaliado pelo ortopedista com direito a filmagem e tudo. Ficou acertado que na próxima segunda feira o Dr. Beythien iria fazer a angioplastia se realmente achasse necessário. Até lá, esperaríamos…
O dia seguinte foi de turismo. Pegamos um taxi que nos deixou na Old Town, que parece ser o local onde tudo acontece. Ali ficam as praças com música ao vivo, barzinhos, restaurantes, museus e a Promenade, que é um píer ao longo do qual param os barcos que fazem cruzeiros pelo Reno e dezenas de barzinhos, que servem drinks e petiscos para aqueles que querem ficar apreciando o ir e vir de pessoas no pier e barcos no rio.
Após um giro para conhecer o lugar, nos instalamos em um barzinho na sombra e pedimos uma loira gelada, acompanhada de tapas, que não são exatamente os espanhóis que estamos acostumados a ver o Brasil, mas serviram para forrar o estômago. No meio do almoço o Ricky teve um acesso de tosse que chegou a ficar com dificuldade para respirar. Provavelmente seus músculos entraram em fadiga e tivemos que interromper nosso almoço para socorrê-lo. A tosse só passou depois que saímos do restaurante.
Com o Ricky melhor, fomos andando por avenidas chiques, passamos pela pontezinha onde está a estátua de Netuno e pegamos um taxi para voltar ao hospital/convento.
No dia seguinte, era domingo, Dia das Mães! Na noite anterior havíamos combinado de fazer o passeio de barco pelo Rio Reno. No começo da tarde recebemos a visita da Madre Superiora do Convento em nosso quarto. Embora ela transbordasse simpatia, a comunicação foi bastante difícil, pois ela não fala outra língua a não ser o alemão e nós não falamos nada de alemão, portanto… mesmo assim ela ficou um bom tempo em nosso quarto, procuramos nos entender por gestos e tiramos várias fotos com ela. Muito simpática!!!!!! No domingo, o taxi não pode entrar até o local onde descemos no dia anterior, pois era zona só de pedestre. Com o início da EuroVision a cidade estava abarrotada de gente, competições acontecendo etc. Nas ruas víamos pessoas trajando uniformes de corrida, com identificação, outras com fantasias etc., que não conseguimos identificar o motivo. Altamiro, um brasileiro dono da sorveteria da praça, nos orientou qual o melhor passeio de barco. O próximo passeio de barco sairia somente às 18:00 horas. Perdemos o horário das 15 horas por pouco pois já eram 15:20 horas. Tivemos que fazer hora para passar o tempo. Decidimos então tomar uma cerveja naqueles barzinhos. Dessa vez escolhemos um com decoração latina e músicas tipo caribenhas e mais uma garrafinha de “bier”… Outra vez veio a fome e quando vimos, Dra. Lilian Freua, que nos acompanhava, já estava conversando num papo animado com uma mulata rechonchuda que disse ser a responsável pela cozinha da sorveteria e que sua especialidade eram as coxinhas… embora tivéssemos ido ali para comer pasteis, infelizmente esses já tinham acabado, resolvemos então ficar com a segunda opção. Marilda então perguntou quantas coxinhas queríamos. A Cristina, para responder a essa indagação, inocentemente perguntou qual era o tamanho das coxinhas, ao que a mulata, que estava apenas de shortinho curto e mini-blusa respondeu: como você acha que podem ser as coxas de Marilda? apertando as suas próprias…grandes é claro !!!! e sorriu com os dentes alvos e separados tipo Ronaldinho…
Tratava-se de uma figura bizarra, que disse ter vindo para a Alemanha no tempo em que fazia shows pelo mundo como “Sargentelli e suas mulatas”. Na época contou que conheceu um alemão com quem está até hoje…22 anos… E que agora pretende ir com ele para o Brasil. O marido já comprou uma fazenda em Goiás e tencionam voltar para lá e passar alguns anos… Quanto ao sabor, as coxinhas estavam deliciosas, com bastante recheio de frango e massa de batata bem leve…eu mesmo comi duas….na hora de pagar, mais uma vez nos surpreendemos: pegou o dinheiro e colocou dentro do soutien, como se estivesse num “Cabaret do Moulin Rouge”….e ainda acrescentou: aqui é o lugar mais seguro… hehehe …e balançou as tetas….Eu comentei: ela guardou o dinheiro no cofrinho! mais tarde o Nilton acrescentou: aquilo não era um cofrinho, era uma caixa forte!!!!!
Depois de saborear as coxinhas, vimos que já estava quase na hora da saída do passeio de barco e rumamos pela Promenade por mais de 1 km até chegarmos ao barco: Reich Enric. Não era um barco grande, mas o suficiente para levar-nos ao passeio. O passeio durou aproximadamente uma hora e pudemos reconhecer vários tipos de arquitetura das construções às margens do Reno, desde as mais antigas, castelos, museus, igrejas, até as mais modernas, revelando um estilo novo e arrojado, com prédios de várias formas e cores.
Após o passeio de barco, tomamos um taxi para casa. O dia tinha sido longo e ainda faltava preparar o Ricky para o dia seguinte, após o que fomos dormir.
Na segunda feira tivemos que acordar cedo pois o agendamento para os procedimentos do Ricky estava feito para as 9:00 horas. Conceição passou pouco antes disso e avisou que já estavam chamando do Hospital. Chegando lá fomos direto para a sala de preparo, onde foram feitas todas as medidas dos parâmetros vitais, ECG, oximetria etc.: estava em condições clínicas boas para a angioplastia. Da sala de preparo fomos para o centro cirúrgico, onde fica a sala de radioscopia. Quase uma hora depois chegou o Dr. Christian Beythien, quem faria o procedimento, que seria assistido por mim e Dra. Marcia, neurologista que estava seguindo o caso do Ricky.
Após os preparos de praxe, foi feito o angiograma das jugulares e constatado que em ambas havia estenose. Foram passados balões de dilatação em ambos os lados, que ficaram insuflados por 5 minutos cada um. O procedimento havia terminado, e segundo o médico tinha sido um sucesso! Dali fomos para a sala de recuperação onde o Ricky deveria ficar por 4 horas.
Hoje havíamos recebido a notícia de que definitivamente o transplante de células tronco não poderia mais ser feito no Xcell. À tarde, entretanto, a Conceição me chamou e disse que havia arrumado um outro Centro onde poderia ser feito, mas que não tinha maiores informações e que deveríamos ir conhecê-lo. O Centro fica em Bonn. Mal havíamos chegado do posto e já avisaram que o Ricky estava bem e que poderia ir para casa. Voltamos a Xcell e levamos o Ricky para o apartamento. Já no apartamento, Conceiçao que iria para Bonn no dia seguinte cedo e que eu deveria acompanhá-la para conhecer o local onde poderia ser feito o transplante. Em seguida fomos dormir.
3ª feira acordamos cedo para irmos a Bonn. Lá fomos nós estrada a fora. Em pouco mais de 1 hora já havíamos chegado: Am kurpark no. 2. Na verdade, tratava-se de uma clínica particular de nome Elisée Klinik, cuja principal área de atuação é em medicina estética, mas são autorizados a realizar também transplantes de células-tronco. Após quase 1 hora chegou Dra. Natalia Brenner, que explicou os procedimentos possíveis no caso de ELA. Disse ela que já tratara 24 casos de ELA com resultados variáveis, mas que em dois casos os resultados foram surpreendentes, e que em um caso, o paciente até voltou a andar. Ela disse que parecia um milagre!…
Após as explicações técnicas, a médica saiu da sala e disse que os detalhes financeiros seriam acertados pelo Dimitri. Este então apresentou as opções dependendo do que íamos querer:
1 – Transplante com infusão por punção lombar e endovenosa
2 – Idem ao anterior mais ativação plaquetária
3 – Idem ao anterior mais algumas perfumarias…
Optamos pela primeira. Comentei mais tarde com o Nilton que me senti como se um bando de abutres estivesse esperando ávidos pela carniça… Infelizmente essa, éramos nós próprios…mas tudo bem… Aguardamos mais algum tempo para que fosse colhida uma amostra de sangue do Ricky para exames hematológicos de rotina “pré”. Em seguida retornamos para Dusseldorf. Resolvemos alugar um carro para irmos a Bonn, já que teríamos que ir mais 3 dias. Tínhamos agendado a coleta de células do Ricky para as 10:horas. Mesmo tendo acordado cedo, não conseguimos chegar na hora, chegamos quase ao meio-dia. Depois de um castigo de mais de uma hora pelo atraso, as células foram colhidas. Dra. Natalia mostrou competência para o procedimento: foi direto no local certo e colheu 3 seringas de células. Em seguida fomos para o quarto onde o Ricky ficou em observação por aproximadamente 1 hora. Deixamos Bonn às 17 horas. No meio do caminho, o Ricky sugeriu que entrássemos na cidade de Kolln (Colônia) que fica entre Dusseldorf e Bonn. A sugestão foi aceita de imediato! Estava uma tarde ensolarada e quente. Rodamos um pouco pela cidade e fomos para o Centro, onde fica a famosa Catedral. A grandiosidade da Catedral deslumbra à primeira vista. Entramos para conhecer seu interior e tiramos algumas fotos.
Saímos e passeamos pela Praça em frente, fomos até a HauptBanhoff, passeamos pelos jardins e fomos até a Ponte sobre o Rio Reno, em cujo alambrado de proteção de um dos lados pudemos observar uma tradição interessante dos habitantes daquela cidade. Voltamos ao carro e seguimos viagem. Chegamos bem em Dusseldorf.
Na 5ª feira, novamente o despertador soou as 7 horas da manha, fizemos os alongamentos, café da manhã, barba, banho e as 10:30 já estávamos prontos. Saímos de casa às 11 horas. Não foi o suficiente para chegarmos ao meio-dia, horário marcado para o transplante. Chegamos as 12:10 horas e novamente fomos penalizados de modo que o transplante somente seria iniciado as 17 horas.
Aguardamos a tarde toda a chamada para o transplante, o que só ocorreu depois das 18:00 horas. Descemos de elevador novamente ao subsolo, onde é o centro-cirúrgico. Lá já nos aguardava a Dra. Natália, que me apresentou outra colega, que não entendi bem se era anestesista ou neurologista. O fato é que depois de posicionarmos o Ricky na posição para punção lombar, sentado, ela deu início ao transplante.
Na primeira tentativa não conseguiu achar o espaço raquidiano, na segunda tentativa obteve êxito. O transplante consistiu em apenas injetar uma seringa de 10 ml contendo as células, pela agulha. Após a injeção lombar, Ricky foi deitado e recebeu mais 3 seringas de 10 ml pela veia, cujo acesso já havia sido instalado ainda no quarto. Dra. Natália anunciou então que haviam sido transplantadas 13 milhões de células de ótima qualidade!!!!
Coloquei-o então na cadeira de rodas e subimos ao quarto. Todo o procedimento não levou mais do que 30 minutos. Depois de acomodado novamente na cama, pudemos relaxar um pouco, apòs vários dias tensos. Voltando ao quarto, o Ricky disse que estava bem, sem qualquer dor e que queria dormir. Foi o que todos nós fizemos.
Ricky acordou sem qualquer dor nas regiões das punções. A noite transcorrera sem maiores problemas, tendo dormido por várias horas, chamando apenas poucas vezes para que o acomodássemos melhor na cama.
Por volta de 9 horas, ainda estávamos no quarto, chegou um amigo, Robin, que mora em Bonn e soube que estaríamos lá e quis nos visitar. Ficamos conversando por um tempo no próprio quarto, quando chegou a Dra. Natália para ver o Ricky e dizer que ele já estava de alta e que poderia sair.
Conceiçao quis levar uma médica conhecida sua para ver o Ricky. Depois de ouvir a sorridente e carismática doutora, nos sentimos um pouco mais confiantes e relaxados. Afinal, o Ricky tinha feito o transplante, passava bem e tínhamos fé de que dentro de pouco tempo ele estaria melhorando. Deixamos a Elisée Klinik por volta de meio dia. Robin se ofereceu para nos mostrar Bonn. Iniciamos nosso roteiro turístico pelo Rio Reno no trecho urbano, atravessando uma balsa para chegar à zona das vinícolas. No ponto mais alto dessa região fica uma construção que no passado foi o Palácio de Férias do Governo, até onde fomos. Nesse local, os governantes recebiam seus convidados e davam recepções quando Bonn era Capital da Alemanha Ocidental. Hoje está ali instalado um Hotel, que visitamos por fora e que tem uma vista linda das parreiras que produzem vinho branco. Ali vimos um restaurante e uma casa de chá que ficam sob as árvores em um ambiente campestre. Do Palácio saímos e fomos tentar almoçar em um restaurante que fica dentro de um Hotel, também às margens do Reno, mas nos avisaram que devido ao horário a cozinha já estava fechada. Fomos então para o Centro da Cidade de Bonn e paramos em uma vaga de deficientes. Robin nos avisou que era obrigatório o uso de cartão de identificação do deficiente, porém não o tínhamos. Ele não teve dúvida. Pegou um pedaço de papel e uma caneta e deixou um bilhetinho em alemão para o guarda: ” Estamos com uma pessoa em cadeira-de-rodas no restaurante. Por favor não nos multe”…. e assinou com uma “carinha de sorriso” 🙂 …. só o Robin mesmo….
O almoço era tipo “self-service” e não havia nada que o Ricky pudesse comer, de tal modo que fomos no restaurante ao lado procurar alguma coisa. Lá eles tinham uma salada que se propuseram a bater no liquidificador e fazer uma sopa. Aceitamos. Depois do almoço eu fui acertar a conta no restaurante do lado e a dona, que era sul-americana, não quis cobrar. Disse que era o mínimo que poderia fazer para ser solidária com o problema do Ricky. Ainda existe almas nobres!!!!
Durante o almoço não apareceu nenhum guarda para nos multar e nos enchemos de confiança, deixamos o carro ali mesmo e saímos a passear pelas ruas do centro. Já estava na hora de pegarmos a estrada de volta à Dusseldorf e Robin se ofereceu para nos conduzir até um ponto que não teríamos mais dúvida no caminho e que fosse fácil para ele voltar para casa. Assim dirigimos alguns minutos mais e deixamos o Robin, já com o mapa do caminho que deveríamos seguir. A viagem de volta foi tranqüila.
Já em Dusseldorf voltamos ao Convento. À noite nos reunimos em nosso quarto e comemoramos o “transplante” com queijo e vinho. Nilton fez questão de trazer um “Chateauneuf du Pape”. Vieram também Lilian e Conceição. Não nos demoramos muito porque o Ricky estava em convalescência e não deveria abusar. A ordem era recolher-se cedo! Dormimos.
No dia seguinte dormimos até mais tarde. Estava muito frio!! Ricky amanheceu animado, querendo passear pelo bairro, mas com o frio que estava fazendo não quisemos arriscar. Já mencionei que os preparativos para o Ricky sair de casa não eram muito rápidos. Mais uma vez iniciamos o ritual: barbear, banhar, vestir, agasalhar, alimentar…isso leva algumas horas. No início da tarde resolvemos pegar o carro e ir conhecer um Shopping estilo brasileiro, que Conceiçao havia sugerido. O “Arcade” é um shopping com lojas de grife e praça de alimentação. Um fato curioso foi a nossa ida ao toilette. Ricky quis ir ao banheiro e tratamos de procurar um para deficientes físicos. O banheiro era lindo e enorme. Super-moderno, com portas automáticas e monitorado por circuito de TV. Na hora de sair, tentei apertar um botão verde, e … nada…. apertei o vermelho e mais uma vez sem nenhum efeito. Nesse momento, o Ricky me avisou que as instruções estavam escritas em um painel perto da porta. Imaginei que por mais que me esforçasse em aprender alemão num curso intensivo, levaria muito tempo para podermos sair do banheiro. Achei a situação muito engraçada e estava fotografando o banheiro e os malditos botões com as explicações quando a porta se abriu. O banheiro era monitorado e a recepcionista percebera que estávamos demorando muito e resolveu acompanhar a Cristina para nos resgatar…. coisas de primeiro mundo!…
Deixamos o shopping no final da tarde. Dirigi até a TV Tower onde planejamos ver o pôr do sol. Nessa Torre, tivemos um tratamento especial por estar com o Ricky em cadeira-de-rodas. Pudemos estacionar o carro bem ao lado da porta de entrada no subsolo. Dali as portas foram abertas especialmente para passarmos e um segurança nos acompanhou até o térreo onde fica a bilheteria. Só depois de tirar os tkts pudemos subir até o observatório a 172 metros de altura. Dali tinha-se uma visão panorâmica em 360 graus da cidade! uma bela paisagem. O dia estava ensolarado e pudemos ir reconhecendo, um a um, os lugares que já havíamos passado e ficar vendo o povo que se aglomerava na frente de um palco na “Promenade” para assistir a algum evento da Eurovision.
Bem, depois de contemplarmos um lindo pôr do sol, já começamos a ficar com fome e subimos para jantar. O restaurante da Torre é muito bem decorado. É um restaurante giratório e enquanto jantamos passamos por toda a cidade e mais uma vez pudemos reconhecer os locais que já conhecíamos. A volta de 360 graus demora mais ou menos uma hora para ser percorrida. A comida não surpreendeu, mas também não decepcionou. O vinho estava no ponto e a sobremesa exótica. E encerramos nosso sábado com chave de ouro, com jantar à luz de velas em um restaurante giratório a 200 metros de altura! Não poderia ter sido melhor, depois de tantos dias de apreensão e estresse com a incerteza do transplante. Saímos do restaurante e voltamos para casa, subindo para o merecido repouso.
No domingo iríamos receber a visita de uma prima, Lucila, que está morando em Munster, uma hora e meia de trem de Dusseldorf. Logo após o meio-dia saímos todos do Convento, em direção a estação de Tram que ficava a um quarteirão de onde estávamos. Mal deu tempo de chegarmos a estação e já avistamos o tram que estava chegando. Era o dela mesmo pois em poucos segundos desceu Lucila com um sorriso de alegria em nos reconhecer e encontrar tão longe de nossa pátria. Após os cumprimentos e apresentações, levamos a prima até o Convento onde estávamos hospedados. Já era hora do almoço e nos dirigimos ao BierHauss, que era aconchegante e rápido. No restaurante, Lucila logo tomou as rédeas do grupo e fez os pedidos de todos nós, agora em “bom alemão” e com muito desembaraço.
Depois do almoço, Lucila pediu à garçonete que nos chamasse um taxi, e nem 5 minutos depois ele já havia chegado. Passeamos, pela última vez nessa viagem, nas ruas do centro, para mostrar à Lucila, que não conhecia Dusseldorf. Descemos a “Promenade” com aquela paisagem festiva do rio, barcos e gente passeando. Ricky lastimava-se por não ter andado no Tram nenhuma vez e Lucila, como quem queria paparicar o primo, disse que se ele quisesse andar que ela falaria em alemão com o piloto para que esperasse até que o tivéssemos embarcado. Ricky adorou a idéia e assim fomos caminhando até a estação. Depois de tirarmos os bilhetes, subi com Ricky o elevador, tipo de funicular que nos levou até o andar de cima onde estavam os trilhos e a parada do Tram. Aguardamos por alguns minutos e a hora que o Tram chegou, tentei entrar, mas a porta não tinha largura suficiente para passar a cadeira-de-rodas e lá se foi o primeiro Tram sem nem mesmo dar tempo de conversar com o piloto. Quando chegou o próximo, notamos que algumas portas eram mais largas do que outras para permitir justamente a entrada de cadeiras-de-rodas e carrinhos de bebês. Conseguimos entrar dessa vez. Foi sua realização!!!!!
Agora estava se sentindo habitando a cidade!!!!! – nada como um transporte público…
Em 15 minutos já chegamos a Kramkerhauss. Para sair do vagão eu e Nilton tivemos que levantar a cadeira de rodas na mão pois ali a plataforma é mais baixa e tínhamos que vencer 2 degraus. Nada tão difícil para quem está acostumado a subir e descer 18 degraus em nossa casa…
A essa hora, já era fim-de-tarde e Lucila ainda precisava voltar para sua cidade, com outro trecho de mais de uma hora de trem. Ali mesmo nos despedimos dela, que entrou novamente no Tram que a deixaria na Estação Ferroviária. Voltamos para casa pois tínhamos que começar a arrumar as malas para embarcar no dia seguinte para Barcelona. Ainda fizemos um lanche em casa, mas cada um se recolheu logo ao seu apartamento para arrumar a bagagem. Dormimos cedo.
Novo dia, nova semana, nova cidade, novo país, novas esperanças! Barcelona, aqui vamos nós!!!!! A viagem foi curta e logo desembarcávamos em Barcelona. A constatação de que estávamos em solo latino foi instantânea. As pessoas não são tão claras, falam mais alto e mais rápido. A limpeza não é tão rigorosa como na Alemanha. Passamos na lanchonete para tomar um cafezinho e fomos procurar taxis no lado de fora. Rumamos para o Centro da Cidade: Hotel Reding, entre a Praça Universitat e catalunha, quase na esquina da Av Pelai.
Não perdemos muito tempo no Hotel, pois nossa estada em Barcelona seria curta e tínhamos que aproveitar cada minuto. Passamos uma água no rosto e já descemos para a rua. Ricky tinha combinado com uma galera de se encontrarem no Bar Zurich às 20:30 horas. O Zurich fica exatamente em frente à entrada do Metrô da Praça Catalunha, um lugar central e de fácil acesso para todos. Ricky combinou de encontrar as meninas no dia seguinte cedo. Katia, que mora longe de Barcelona, iria se hospedar na casa de um amigo assim poderia vir logo cedo para o Hotel. Mais tarde se despediram e fomos dormir.
No dia seguinte, Katia chegou cedo e ficou conversando com Ricky. Logo depois chegou Rafaela. Emilie iria encontrar-nos a tarde, pois tinha que trabalhar. Saímos todos para tomar um café da manhã na lanchonete na esquina do Hotel. Depois saímos para andar pela cidade. Ricky, Cristina, e as meninas ficaram passeando pelas “Ramblas” da cidade e acabaram indo almoçar em um restaurante no bairro do Raval, com direito a música ao vivo e tudo: jazz, músicas espanholas e até tico-tico no fubá executado ao som de um xilofone por uma japonesa…. que torre de Babel…..
Fui me juntar ao pessoal. Ricky queria voltar pelas ruas, mas Cristina protestou veementemente: já tinha andado bastante e estava cansada! No fim, ela, Lilian e Nilton pegaram um taxi e retornaram ao Hotel, enquanto eu, Ricky, Rafa, Katia e Emilie voltamos pelas Ramblas e novamente pelo Raval, onde vi a escultura do “Gato de Botero”. Chegamos ao Hotel aos frangalhos…. tinha andado mais de 10 quilômetros naquele dia. Tínhamos que dormir cedo pois o dia seguinte seria muito longo.
Acordamos às 4:00 horas da manhã!!!! O vôo saiu no horário e foi tranquilo. Chegamos no aeroporto Charles DeGaule e fomos desembarcados novamente com o auxílio de um guindaste especial que nos conduziu ao corpo do aeroporto. Pensei que iríamos embarcar direto no próximo avião, pois tínhamos apenas uma hora de diferença entre chegada e saída. Enganei-me. Nos levaram para o aeroporto e tivemos que começar tudo novamente: Raio X, revista, passaportes etc. O interessante mesmo foi na hora de embarcarmos no avião, que o elevador que nos conduziria estava em manutenção. Avisamos que já estava na hora da saída do vôo. Uns se comunicavam com os outros por telefones, todo mundo correndo de um lado para o outro, mas ninguém apresentava a solução de como descer o Ricky. Alguém se lembrou que na outra ala havia um outro elevador. Fomos para lá, acompanhados de uma funcionária da Air France. Ao chegarmos na outra ala, uma surpresa: o elevador estava trancado. Quem teria a chave???
Mistério!!!! telefonemas para cá, telefonemas para lá, todo mundo corre, uns brigam, com os outros, ninguém se entende…Quinze minutos depois alguém apareceu com a chave! Enfim pudemos descer e um outro veículo nos conduziu até o avião. Entramos pela porta de trás. Como iríamos viajar de classe executiva, tivemos que atravessar o avião inteiro. Achei que as pessoas nos olhavam como quem diz: esses aí são muito folgados: 200 pessoas esperando pelos gostosões….
Acho que me enganei novamente. O Comandante havia dito no sistema de som que o vôo se atrasaria por causa de uma revisão técnica. Depois disso ainda esperamos quase meia hora. No total o vôo se atrasou uma hora.
Assim que saímos novamente o Comandante falou aos passageiros que iria tentar compensar o atraso. Mesmo assim ainda chegamos meia hora após o horário previsto.
No aeroporto nos esperava mais uma vez a incansável Maria Silvia que disse estar ali desde as 4 da tarde. Já eram quase 7 horas da noite.
Pisar em solo brasileiro é muito bom…. nos sentimos em casa novamente!
Agora vamos esperar, torcer e rezar para que as melhoras apareçam logo.
* Márcio Peres Ribeiro, médico cirurgião cardíaco
Uma resposta
Traducir al Español POR FAVOR TODO ,MI HIJO TIENE ELA O ALS Y QUIERO CURARLO